São tantas superstições... será que estão inventando novas?
Almoçaríamos. O rapaz pediu que eu lhe passasse o saleiro e, quando o estendi, fez-me um sinal com o dedo indicador para que o deixasse na mesa. Estranhei, obedeci, vi-o borrifar sal nas batatas e depois pousar o saleiro de volta na mesa, em vez de entrega-lo na minha mão.
— Sal não se passa de mão para mão – disse ele.
Regras de uma nova etiqueta?
— Se você pegar, vai brigar com a pessoa.
Essa eu não conhecia. Suas perstições não são o meu forte, sabia de umas poucas, só aquelas manjadas, tipo número 13, não passa de baixo de escadas, gato preto passar na sua frente, levantar-se com o pé esquerdo, bater na madeira três vezes ao falar alguma desgraça ou mencionar a palavra azar.
Coitado, eu tive um amigo que chamavam de "toc–toc", não podia nem falar o nome dele, diziam que dava – toc–toc–toc – azar. Só de vê-lo ao longe procuravam logo uma madeira: toc-toc-toc.
Não sei se estão inventando novas superstições ou se os grupos socias vão se contaminando com as novidades. Algumas pessoas estão adotando superstições como uma marca pessoal, uma grife, algo que as distingue do rebanho. Fulana? É aquela que só sai pela mesma porta por onde entrou. Não me refiro a simpatias, que essas não têm conta, mas a objetos e atitudes para afastar malefícios, atraso de vida, azar, ziquiria. Até o número de beijinhos sociais pode trazer conseqüências desagradáveis: tem de dar três, senão a pessoa não se casa.
Brasileiro sempre foi chegado a um amuleto, uma figa, quem precisa mais tem guiné, uma fitinha do Senhor do Bonfim, um comigo-ninguém-pode ou uma espada-de-são-jorge plantado na porta da casa, um raminho de arruda, um pé de coelho dentro do bolso, santinhos – tudo para evitar olho gordo, coisa ruim.
Em época de Copa do Mundo, propaga-se mais uma: vestir uma peça de roupa que tenha sido usada na última vitória, ou sentar-se no mesmo lugar, para evitar derrota.
Alguns dirão que é simpatia para dar sorte, mas em Copa só há duas possibilidades: sorte ou azar, campeão ou desgraça.
Tenho uma amiga que se defende por todos os lados. Tem uma semente olho-de-boi atrás da porta da rua, nunca usa roupa cinza, depois que sai de um velório nunca vai direto pra casa, não visita ninguém em 13° andar, não abre o guarda-chuva dentro de casa ( jamais!, nem se ele estiver escorrendo água), não aceita flores de beira de cemitério (pergunta, na caradura, de onde vieram), e não deixa de jeito nenhum sua bolsa no chão, senão o dinheiro vai embora.
Esta é de poucos, uma sofisticação : um diretor de redação de revista paulistana não pode nem ouvir um acorde da canção Romana. Foge do recinto. Diz que é a mais negativa energia que roda o cosmo. E quem é que conhece lá essa música, um sucesso que rolava na voz de Bing Crosy desde o fim dos anos 20? Por que será azarada?
A origem das superstições é brumosa. Menos uma, bem antiga, segundo a qual dava o maior azar acender o terceiro cigarro com o mesmo fósforo numa roda de amigos. Era sinal de morte. Explicaram-me que a má sina nasceu nas trincheiras da guerra. No primeiro cigarro, o inimigo localizava o alvo; no segundo, apontava; no terceiro, atirava.
O mais radical dos supersticiosos, ouço dizer, é um empresário paulista. A pérola de sua coleção é o horror à cor marrom, segundo ele, a suprema portadora de urucubaca. Não recebe ministro se vier de terno dessa cor. Apaixonou-se, resolveu encarar o segundo casamento.
A noiva, que não sabia de nada, apareceu no cartório de vestido marrom.
O casamento acabou ali.